A SUBJETIVIDADE DOS PERSONAGENS DOS CONTOS DE JOSÉ SARAMAGO E JOÃO GUIMARÃES ROSA.
RESUMO: O
seguinte ensaio tem como objetivo trazer uma reflexão acerca dos propósitos que
os dois personagens centrais dos contos “O conto da ilha desconhecida”, de José
Saramago e “A terceira margem do rio” de João Guimarães Rosa, tinham ao
procurarem os barcos e se aventurarem ao mar/rio. Usando uma análise subjetiva,
de caráter pessoal, será apresentado a interpretação da autora do ensaio, sobre
a finalidade dos personagens e o simbolismo que representa o barco/canoa.
Palavras-chaves:
Finalidade – Mar/Rio – Simbolismo – Barco/Canoa.
“O
conto da ilha desconhecida” é o último conto que José Saramago escreveu, foi
escrito para uma comemoração portuguesa, que celebravam os 500 anos do início
das explorações marítimas portuguesas.
Esse
conto é sobre um homem que vai até o rei e pede a ele um barco para ir atrás de
uma ilha ainda não mapeada. O rei querendo livrar-se do homem, dar-lhe o barco.
A mulher da limpeza, vai atrás do homem e junta-se a ele. Após a mulher passar
o dia inteiro limpando o barco e o homem atrás de marinheiros – ninguém
acredita que possa haver ilhas a serem descobertas – volta para o barco
sozinho. Quando eles se encaminham para dormir, cada um para um lado do barco,
o homem começa a sonhar com a sua ilha desconhecida.
“O
conto da ilha desconhecida” contém a escrita característica de José Saramago.
Parágrafos longos, escrita formal, é narrado em terceira pessoa, as falas são
apenas marcadas por letras maiúsculas, e a troca de interlocutor nos é avisada
por meio de vírgulas, formam a estrutura deste conto.
Já
o conto de João Guimarães Rosa, é narrado em primeira pessoa, os parágrafos são
menores, a marcação de fala nesse conto nos é apresentado por meios de “aspas”
e a escrita desse autor é a representação das características do sertão do
país, que encontramos, não apenas nesse conto, mas como em seu livro de contos
“Sagarana” e seu mais famoso livro “Grande Serão: veredas”.
O
conto da ilha desconhecida, lembra muito o conto do escritor brasileiro João
Guimarães Rosa “A terceira margem do rio”, as histórias remetem uma a outra. Os
dois são centrados em um homem, cujo um dia gostaria de um barco, um para
encontrar uma ilha ainda não mapeada e outro apenas por que gostaria de se
afastar das pessoas.
Cada
personagem tem um objetivo, algumas vezes é mais difícil de encontrar esse
proposito em apenas uma leitura dos contos. O quesito da subjetividade é um
ponto importante para chegar a uma conclusão pessoal, ou até mesmo em coletivo.
Mas se pensarmos nos dois textos em conjunto, podemos perceber que os
personagens têm um sonho de estarem no mar – ou rio. Eles passam por todos que
os chamam de loucos, que perderam o juízo e mesmo assim, seguem com seus
planos.
Isso
nos lembra a perseverança que temos em seguir nossos próprios sonhos e
objetivos, ou quando queremos algo e nada nos impedirá de possuir. O homem do
barco tem o objetivo de encontrar uma ilha desconhecida, mas parece que tem
algo muito mais profundo; poderia ser um desejo de ascensão social. O pai do
menino do outro conto não deixou explícito o motivo de sua partida, podemos
sugerir que ele gostaria de viver solitariamente na canoa, por talvez, ser um
sonho de muitos anos.
Interessante
lembrar, que o conto “A terceira margem do rio” é narrado em primeira pessoa, o
filho do senhor, e que ele pode estar direcionando uma história do possível falecimento
do pai para uma viagem. Uma passagem do texto alude a essa interpretação:
“Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só
executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio,
sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa
verdade deu para estarrecer de todo a gente” (ROSA, J. G. A terceira margem do
rio)
No
conto de José Saramago encontramos uma natureza mais fantástica. O personagem
sonhe com a saída do porto até a chegada a ilha desconhecida, que ao mesmo
tempo é a transformação do barco para uma ilha. Seria a transformação que queremos
ter ao terminar uma faculdade, comprar uma casa, ou apenas de nos voltarmos
para as pessoas que éramos e verificar nossa transformação interiores e
exteriores.
Também
temos o barco como simbologia de uma travessia. A travessia, tanto para o lado
espiritual, ou apenas como uma travessia de um momento da vida para o outro,
como a mudança da infância para a adolescência, da juventude para a vida
adulta, e assim por diante. Em “o conto da ilha desconhecida” podemos ver essa
mudança de uma fase da vida, já no conto “a terceira margem do rio” podemos
olhar como a travessia das pessoas desse mundo, para o mundo espiritual.
Essa
travessia nos leva pensar em nossas vidas, estamos no meio do rio/mar para uma
outra fase de nossas vidas, ou apenas uma travessia para o mundo que não
conhecemos, que não podemos ver? Apenas fazendo uma reflexão pessoal, que
poderemos chegar a uma conclusão.
REFERÊNCIAS
ROSA, J. G. A terceira margem do rio.
In:_____________. Ficção completa: volume
II. Rio de Janeiro: Nova Aguiar, 1994, p. 409-413.
SARAMAGO, J. O conto da ilha desconhecida. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
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